sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Redução de novas descobertas. E o Brasil com isso?, por Armando Cavanha





Houve uma redução significativa no volume de óleo descoberto em 2016 ao redor do mundo. Os números anunciados nos balanços do ano giram na casa de 6 bilhões de barris de óleo equivalente (bboe), segundo a Rystad Energy de Oslo. Estudos indicam que o esperado anual seria de cerca de 40 bilhões de boe, como manutenção dos patamares anteriores.

Houve menos sísmica, menos perfurações, menos descobertas.

Não que haja uma relação direta destas variáveis, muito menos em causa e consequência em tempos curtos.

Mas há sim certa influência dos últimos anos menos atrativos em termos de preços do produto final produzido e isto afeta principalmente o humor de investidores, empresas de petróleo e até o supply chain de bens e serviços de óleo e gás.

Além disto, perfurar e encontrar óleo é o melhor dos mundos, mas não achar significa pelo menos ganhar conhecimento, aumentando as chances das “apostas” futuras.

No mundo foram perfurados 431 poços em 2016, cerca da terça parte do ano de 2014. No Brasil estima-se que a queda tenha sido ainda maior proporcionalmente.

As consequências

Isto certamente trará consequências pelos próximos anos, independentemente de qualquer retomada de atividade. Há um efeito defasado dos investimentos, suas descobertas e mais ainda da cadeia produtiva consequente.

A geofísica também se ressentiu desta redução de interesse, já que ela vem antes da perfuração, quando mapeia as estruturas e as oportunidades com os navios de air gun e hidrofones passeando pelos mares.

E o Brasil neste contexto?

Um tema complexo, arriscado de se analisar, ideal de ser feito por geólogos, geofísicos, mais ainda com aqueles com visão de reservatórios. Mas não há dúvidas de que estamos reduzindo nosso interesse em áreas nem tão atrativas, que no passado recente tinham grande apetite exploratório no país. E, adicionalmente, desativando com velocidade alta reservatórios mais antigos, como na Bacia de campos mais inicial, que poderiam estar sendo recuperados com as novas tecnologias e investimentos de parceiros internacionais, multiplicando a produção de óleo ainda lá existente. Toda a estrutura está pronta nestes locais, obviamente carece de estudos de viabilidade para reinvestimentos campo a campo com base na história e revisão técnica caso a caso.

Os 12 ou 15 bilhões de boe de reservas provadas do Brasil e as muitas dezenas de bboe potenciais com a chegada do pré-sal nos fazem razoavelmente bem posicionados, no que diz respeito aos números já existentes.

Apenas considerando as reservas provadas, teríamos, com um consumo de 2,5 milhões de boe/dia, mais de 10 anos de "estoque". Claro, a depender de investimentos de processos de produção, escoamento, estrutura, quase que totalmente focalizados na Petrobras, que hoje não se encontra em uma fase de caixa capaz de suportar desafios muito desconcentrados.

"Timing"

Ocorre que estamos, nós brasileiros, perdendo o "timing" da retomada.

Como provavelmente o mundo irá necessitar de grandes volumes de hidrocarboneto pelo futuro próximo, incluindo o gás, que é uma história a parte, e como não há clareza de nenhuma tecnologia substituta para breve, ter "estoques" produtivos significaria ter recursos financeiros certeiros à frente. As conquistas sociais em todo o mundo não tem muita chance de retroceder, como o consumo de energia, o bem estar conquistado, transporte, tendências de inclusão social, portanto uma demanda em processo de crescimento sobre estes “poucos” 100 milhões de boe/dia de consumo global.

Brasil exportador

Além disto, ter um “excesso” de produção em relação ao consumo para breve significaria poder exportar um pouco, quem sabe 1 milhão de boe por dia, e com um consumidor faminto e insaciável como os EUA aqui do lado. Consomem perto de 19 milhões de boe por dia, de forma crescente. Produzem metade em casa, importam muito, teríamos a chance de uma parceria de alto valor com pouco volume, mas com logística “vertical” atrativa e sem ter de passar petróleo por regiões perigosas.

O Brasil ainda tem tempo de fazer um bom trabalho, arrumar a casa rapidamente, com agenda fixa de bids, simplificação dos contratos, conteúdo local competitivo, Repetro desburocratizado. Porém, o mais importante, com regras duradouras, num acordo interno, que permitisse aos diversos investidores a segurança de que não iríamos mudar tudo a cada eleição presidencial vindoura.

Hora de um movimento organizado e positivo, hora de se preparar para ganhar o jogo.



Fonte: Armando Cavanha F.

Revista TN Petróelo