Embora tenha anunciado que em 2012 seu portfólio de gás natural será maior do que o de petróleo, a Shell ainda levará alguns bons anos para ficar de cara nova. "A estratégia da empresa é começar a pensar desde já nos passos para se tornar uma empresa de gás natural, e menos de petróleo", diz David Hone, um dos principais conselheiros da Shell em assuntos de mudanças climáticas.
Também presidente da International Emissions Trading Association (IETA), agência especializada em negociação de crédito de CO2, Hone reconhece que mudar o caminho de uma empresa de petróleo leva tempo. "Mais de 80% da energia que move a economia mundial vem do petróleo, gás natural e carvão. Essa tendência se mantém há quase dez anos e deve continuar pelo menos por mais 40", afirma.
"Se colocássemos hoje no mercado um carro que não usa petróleo e aumentasse sua produção em 20% todos os anos, em 2040 ainda teríamos carros movidos a gasolina", exemplifica.
No entanto é preciso saber quais serão as demandas em 2050. Neste cenário, segundo Hone, o gás natural deve despontar como principal fonte energética e por isso a Shell avança neste sentido. Embora seja um combustível fóssil, o gás é mais limpo se comparado ao carvão por emitir 60% menos de CO2 e ainda considerado eficiente na produção de energia. "Os Estados Unidos investiram nessa alternativa quando quiseram diminuir suas emissões de forma rápida em curto período de tempo", diz.
Para ele, a empresa optou por esse caminho pela cobrança da sociedade e pela necessidade dos tempos que estão por vir.
Hone não acredita em pico do petróleo e também não parece se preocupar com a extração do combustível em áreas de difícil acesso, como dizem algumas prospecções para o cenário. "Estamos falando em pico do petróleo há 200 anos. Vemos o final do que chamamos de era fácil do petróleo, sabemos que há reservas em alto mar em áreas remotas do Canadá, por exemplo, que são mais difíceis de serem retiradas. No entanto, as novas tecnologias surgem o tempo todo".
Entusiasta do mercado de carbono, vê no mecanismo um dos grandes aliados para a redução de emissões de gases de efeito estufa, ao lado das novas tecnologias e da criação de políticas públicas. "Com exceção do último ano em que ficou estagnado devido à crise financeira, o movimento do mercado de carbono europeu tem sido muito bom", afirma. A tendência é que agora países sigam o modelo europeu, acredita.
Países como o Brasil devem ficar de olho nas oportunidades para desenvolver projetos de redução de emissão de CO2 e comercializar no mercado europeu. "É preciso desenvolver projetos na área do etanol e recursos hídricos, criar mecanismos e ganhar dinheiro nos mercados de carbono", afirma. "Mas isso é apenas um começo".
Fonte: Revista Tn Petróleo
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