terça-feira, 23 de julho de 2013
O Ingresso de Engenheiros Recém-formados no Mercado de Trabalho Brasileiro
Thais Marques
Estudante do último ano de Engenharia Elétrica (Unesp-Bauru)
Maiores informações, acesse: mercadoengenharia.wordpress.com
Esta pesquisa foi realizada no LinkedIn em Junho/Julho de 2013 com o objetivo de analisar o mercado de trabalho e o perfil de engenheiros recém-formados de todo Brasil em sua busca pelo primeiro emprego.
A pesquisa on-line obteve 500 respostas entre engenheiros e estudantes de engenharia, sendo 209 engenheiros com ao menos uma experiência de trabalho após formado.
Os tópicos a seguir sintetizam os resultados analisados em toda a pesquisa. Para visualizar a análises gráfica de todas as respostas acesse a aba Estatísticas. Outras análises por perfil serão divulgadas nos próximos dias.
VISÃO GERAL
“Falta de engenheiros faz com que profissão esteja em alta no Brasil: Um engenheiro recém-formado pode ganhar até R$ 5 mil mais benefícios.” foi notícia de Março de 2013 no Jornal Hoje da Globo.
“Brasil tem déficit de 40 mil engenheiros: A escassez de profissionais para trabalhar em campo com infraestrutura melhora propostas salariais, mas prejudica a produção tecnológica do país e reduz a quantidade de mestres e doutores” (Março de 2012). “Crescimento do país força demanda por engenheiros: Previsão de aquecimento econômico esbarra em gargalos na formação de novos profissionais” (Março de 2011). Essas foram notícias na Gazeta do Povo nos últimos anos.
Já é fato que essas matérias não condizem com a realidade de muitos engenheiros recém-formados. Ao mesmo tempo em que surgem essas notícias, tem sido observado muitos engenheiros alertando da dificuldade de se conseguir o primeiro emprego, em especial devido à falta de experiência e exigências do mercado. Além disso, poucas são as vagas que oferecem uma oportunidade para o recém-formado iniciar sua carreira oferecendo ao mínimo o salário piso do Engenheiro.
De acordo com o CREA, o piso salarial para o profissional de Engenharia é de 8,5 salários mínimos com atuação de 8 horas diárias. Isso hoje representa, de acordo com o salário mínimo nacional de R$ 678,00, mais de 5,7 mil reais. Entretanto, essa pesquisa realizada no LinkedIn revelou que apenas 31,3% dos Engenheiros recém-formados desde 2009 tiveram salários de 4 mil reais ou mais em seu primeiro emprego (considerando a variação do salário mínimo desde 2009). Apenas 31% atuam como Engenheiro Júnior em seu primeiro emprego, os demais atuam como analistas, técnicos, auxiliares ou outros cargos em que não é necessário o pagamento do piso de Engenheiro. Então onde está a valorização citada pela mídia?
A pesquisa também apresenta que apenas 13,6% dos engenheiros conseguiram emprego antes mesmo de se formar, enquanto isso 35,6% levou mais de seis meses procurando pela primeira oportunidade (ou ainda estão procurando).
A maneira como conseguiram o primeiro emprego também é interessante, 28,2% dos engenheiros conquistaram esta etapa por indicação e 28,7% foram contratados do estágio ou já eram contratados na empresa durante a graduação. Nos demais casos há conquista da vaga por sites pagos, sites gratuitos, envio direto de currículo para empresa, entre outros, representando ainda assim uma minoria.
Muitos dos engenheiros ainda citaram em informações adicionais que devido à falta de oportunidades resolveram iniciar uma pós-graduação com o objetivo de se capacitar. No entanto, para a maioria deles, as barreiras continuam as mesmas pois o que o mercado exige é experiência.
PRECONCEITO
A pesquisa revela um grande preconceito com relação ás faculdades particulares. Para os graduados em instituições públicas 40,2% recebem 4 mil reais ou mais em seu primeiro emprego, contra apenas 22,4% para os formados em faculdade privada. Os perfis são parecidos, mas as oportunidades são diferentes: 46,5% dos engenheiros das faculdades particulares nunca realizaram nenhuma atividade extracurricular durante a graduação enquanto que apenas 24,5% dos engenheiros da faculdade pública estão neste perfil.
O mesmo vale para o nível de inglês, apenas 33,6% em faculdades privadas falam inglês avançado ou fluente, contra 61,5% nas faculdades públicas. Isto pode gerar resultados como os observados nos candidatos aprovados em programas de trainee: 61% são de faculdades públicas, concordando com o estudo divulgado pela Exame.com sobre “O que os finalistas de programas de trainee têm em comum”.
Outros estudos também apontam esta preferência para os formados em engenharia de uma maneira geral, como a notícia da UOL em Faculdade pública ou privada? Veja como é visto cada profissional: “… existe uma preferência por estudantes de universidades públicas, por conta da metodologia de ensino, que muitas empresas entendem ser mais exigente (…) as multinacionais, especialmente em áreas como engenharia, acabam absorvendo mais profissionais vindos de universidades mantidas pelo governo”.
Em contrapartida, ainda é valido o item citado na mesma matéria da UOL quanto a comparação entre um candidato graduado em faculdade privada com experiência e um estudante de faculdade pública sem experiência, o candidato da escola privada ainda pode levar vantagem. “A experiência é muito valorizada nas organizações”, isto é visível pela grande quantidade de vagas que exigem anos de experiência como pré-requisito, limitando a busca para aqueles que estudaram em públicas (em sua maioria em período integral).
Já com relação as mulheres recém-formadas, a pesquisa não revelou grandes dificuldades. Estudos sobre a desigualdades de gênero apontam que as mulheres estudam mais e mesmo assim recebem menores salários, no entanto a pesquisa não mostrou este problema para as recém-formadas em engenharia. De acordo com as respostas 39% das mulheres recebem salário igual ou superior a 4 mil reais, e para os homens esta porcentagem é bem menor: 27,8%.
Porém, ao comparar as capacitações, pode-se observar que as mulheres estão na frente, talvez justificando a diferença salarial. Elas fazem mais atividades extracurriculares (74,4% das mulheres e apenas 58,8% dos homens), têm mais vivência no exterior (29,5% no caso delas, e 24,2% para eles), melhor nível de inglês (49,2% falam fluentemente ou em nível avançado e para o mesmo caso 44% dos homens) e praticam mais atividades voluntárias (59,5% contra 45,6% dos homens). Apenas perdem para os homens na realização de cursos técnicos (somente 37,2% delas realizaram qualquer tipo de curso técnico, enquanto entre eles são 54,6%). Este fato confirma que as mulheres são mais ativas dentro da engenharia e ao menos em nível de recém-formadas não estão colocadas em vagas com salários mais baixos.
QUEM LEVA MAIS VANTAGEM
Inglês fluente, vivência no exterior, meses de estágio, curso técnico…. Este é um perfil que ajuda muito para quem não tem experiência, mas muitas vezes não é suficiente. A pesquisa aponta que 28,2% dos empregados conseguiram emprego por indicação, 19,1% foram contratados do estágio e 9,6% já eram contratados na empresa durante a graduação. Este perfil totaliza mais da metade dos casos de engenheiros recém-formados empregados. Para muitos esta realidade não é possível pela falta de contatos (mas nunca é tarde) e por não ter a oportunidade de contratação no estágio, portanto a luta é muito mais longa.
Uma conclusão para os estudantes: vale a pena se dedicar e conseguir um bom estágio, mesmo que isso leve tempo e atrase a graduação. É claro que a contratação do estagiário depende do momento que a empresa se apresenta, se existem vagas e se o estagiário se enquadra nas vagas existentes, mas algumas empresas tem maior histórico de efetivação do que outras, portanto focar na busca pode ajudar. E nunca deixar de lado o investimento em um grande e rico networking, dentro do estágio, da faculdade e até mesmo na vida pessoal. Cada contato pode fazer toda diferença.
Para conseguir um bom estágio o currículo acadêmico será válido, visto que na maioria das vezes o candidato ainda não possui experiência profissional (exceto o caso de vagas de estágio que já vêm exigindo experiência também). Portanto, investir em atividades extracurriculares pode ser crucial, além de um bom preparo para todas as exaustivas fases do processo seletivo.
Mas após este período, se o candidato já estagiou e não foi contratado, também não possui contatos para uma indicação, então pode ser o momento de ampliar sua busca. Candidatos que conseguiram emprego com os métodos “tradicionais” (entrevistas sem indicação), enviaram currículo para mais de 50 empresas. Mas vale lembrar que o salário alcançado ainda assim está bem abaixo do piso de engenharia. Isto revela o porquê de 22,6%dos candidatos já recusaram propostas de emprego devido ao baixo salário.
Considerando todos os perfis que responderam a pesquisa, 30% recebem ou receberam em seu emprego salário superior ou igual a 4 mil reais, apenas 3,5% mais que 6 mil. Estes números revelam bem a realidade do mercado brasileiro: ter um piso salarial definido pelo CREA não significa que o engenheiro vai se formar e receber este valor.
CURSOS COM MELHORES SALÁRIOS
100 dos engenheiros desta pesquisa são formados ou estão cursando engenharia química. As respostas revelaram que é um dos cursos com as melhores condições de salário: 48,3% recebem mais de 4 mil reais em seu primeiro emprego, contra 35,6% no curso de engenharia mecânica, 24,1% para elétrica e 21,4% em engenharia de produção. No entanto, são poucos resultados por curso para se atingir uma conclusão consistente. Mas a dificuldade é clara: para todos os cursos citados cerca de 60% dos candidatos procuraram pelo primeiro emprego por mais de três meses.
Nos próximos dias os gráficos de cada perfil analisado serão postados na aba “Estatísticas” para melhor visualização.
CONCLUSÃO
Com tantas exigências do mercado de trabalho e pré-requisitos, ainda permanece algumas perguntas clássicas: Se as empresas não derem oportunidades aos jovens recém-formados, como eles irão adquirir experiências profissionais esperadas? O que pode ser feito para contornar esta situação?
Estes tópicos podemos e devemos continuar em discussão. Agora é possível ter certeza das dificuldades e observar os fatores que ajudam a elevar as chances do candidato, mas sabe-se que ainda assim um bom emprego não é garantido. A solução encontrada pela maioria dos candidatos é iniciar a carreira com salários e cargos inferiores ao de engenheiros, com a esperança de conseguir um nova e melhor posição no futuro.
Sem dúvida, diante a atual situação do mercado da engenharia, para conseguir o emprego dos sonhos é preciso uma boa dose de motivação, persistência e trabalho em equipe.
Desejo a todos sorte e sucesso!
Thais Marques
Estudante do último ano de Engenharia Elétrica (Unesp-Bauru)
Maiores informações, acesse: mercadoengenharia.wordpress.com
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