quinta-feira, 31 de março de 2011

O Futuro na Indústria do Petróleo

 
Ipea estima que, nesta década, faltarão engenheiros capacitados no setor, sobretudo para o pré-sal. As chances também são muitas para os cargos de níveis médio e técnico. Por isso, há empregos praticamente garantidos para especialistas dessa área. E ainda dá tempo de se capacitar

Manoela Alcântara - Correio Braziliense

Quando entraram na faculdade de engenharia mecânica, Thiago Campelo, 25 anos, e Álvaro Martins, 26, não imaginavam um mercado tão aquecido ao obterem o diploma. Logo depois de concluírem a graduação, em 2008, ambos já estavam empregados. O primeiro no setor público e o outro na área privada. Pessoas como eles terão lugar ainda mais garantido no mercado de trabalho com o passar do tempo. Se o Brasil crescer 6% ao ano, até 2020, a contratação de engenheiros capacitados nas áreas de petróleo e gás, construção civil, mineração, biotecnologia e metrologia ficará mais difícil e mais cara. A conclusão é do estudo Radar nº 12 – Mão de obra e crescimento, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O fenômeno pode ocorrer devido aos altos índices de desvio de função registrados nessas áreas. A pesquisa aponta que, entre os graduados, apenas 38% atuam na especialidade para a qual se formaram. Considerada apenas a necessidade para o setor de petróleo e gás, que será o de maior crescimento (de 13% a 19%, segundo o Ipea), há vagas para as mais diversas funções, também em níveis médio e técnico. Segundo a Petrobras, existem hoje mais de 175 especialidades diferentes de atuação, desde a extração até o refino do combustível.

As oportunidades são para cidades ou estados que têm atividade in loco — como Rio de Janeiro, Pernambuco, Manaus e Maranhão — e exigem conhecimentos bem específicos, como soldar um tubo de condução de petróleo, montar andaimes e operar escavadeiras. Em alguns casos, é necessário ficar longe da família e exercer funções em lugares remotos. Tantas dificuldades são compensadas nos bons salários. Um iniciante de nível médio/técnico, por exemplo, ganha R$ 1,7 mil, enquanto o de nível superior recebe cerca de R$ 2,7 mil. Um profissional mais experiente, com diploma técnico, embolsa aproximadamente R$ 8 mil mensais. Já os trabalhadores seniores, graduados e com especializações têm salários de R$ 20 mil ou mais.

A demanda é tão grande e a mão de obra tão escassa que o governo deu início, em 2003, ao Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás (Prominp). “Por meio do Plano Nacional de Qualificação Profissional, os interessados podem participar de uma seleção, lançada em edital no site www.prominp.com.br. Eles são treinados recebendo uma bolsa que varia de R$ 300 a R$ 900”, alerta a gerente-executiva do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Mônica Côrtes de Domenico. Depois de concluir o curso em um dos 80 parceiros do programa, como o Senai, é possível incluir o currículo em um banco de talentos, procurado pelas mais diversas empresas.

Na capacitação, podem ser formadas pessoas de todos os níveis, inclusive engenheiros que queiram se especializar em áreas específicas. “Os cursos nos dão um bom parâmetro. Eles já chegam com alguma experiência e isso é muito positivo. Mas, na maioria dos casos, contratamos as pessoas para ensiná-las na prática. Elas demonstram o interesse e fazemos um serviço de investimento a médio e longo prazo”, relata Cristiane Mendes, analista de Recursos Humanos da Queiroz Galvão Óleo e Gás.

Um caminho comum mesmo no setor público. Thiago Carneiro Campelo, 25 anos, ainda estava na universidade quando decidiu prestar um concurso para a Petrobras, em 2008. Aprovado em 14º lugar, no ano seguinte foi convocado. “Quando estava estudando, queria trabalhar com aviação civil. Foi na Petrobras que descobri o quão interessante e promissora pode ser a área do petróleo”, afirma.

Hoje, o engenheiro trabalha na ponta da comercialização da empresa, com produtos derivados e consultorias a empresas em todo o país. Mesmo com sede em Brasília, ele viaja com frequência para atender os clientes. “O setor de energia é muito abrangente. A vaga para a qual concorri exigia apenas a graduação em engenharia. Aqui, temos uma nova formação”, observa. Pensando no crescimento, Thiago já faz uma pós-graduação em gerenciamento de projetos e não descarta a possibilidade de migrar para o serviço mais específico em plataformas no mar ou em terra. “Nas plataformas, a ascensão é mais rápida e o plano de carreira é diferenciado. Mesmo com o regime de confinamento, quero investir também em capacitação para essa especialidade”, projeta o engenheiro mecânico da Petrobras.

Segundo previsto em acordo coletivo das categorias, quem trabalha em plataformas deve ter disponibilidade para ficar 15 dias confinado no mar ou em terra. Depois, são 20 dias de folga, dependendo da atividade e do regime seguido pela empresa.

Ascensão
Embora a produção do pré-sal já tenha sido iniciada em alguns campos com teste de longa duração e projetos pilotos instalados, até 2014 a meta é aumentar a produção e o investimento em mão de obra. Por isso, quem quiser ingressar nesse mercado precisa iniciar a qualificação agora. Um dos fatores que mais influenciam na mudança de cargos e crescimento dentro das empresas é a experiência. “É preciso galgar funções. Ninguém começa sendo logo sondador (operador de guinchos de sondas de perfuração e outros instrumentos), por exemplo. Primeiro é preciso ser auxiliar de sondador. Assim acontece com os torristas, perfuradores e outros”, exemplifica a analista de RH da Queiroz Galvão.

Por isso, uma boa forma de ingressar em empresas privadas é ficar atento às seleções para trainee (veja matéria na página 3). Depois de escolher os melhores recém-graduados, as empresas os fazem passar pelos mais diversos setores até aprender o que precisam para serem efetivados. Esse treinamento faz a diferença no crescimento e na melhoria de salário. “Não treinamos as pessoas em vão. Oferecer todo um preparo e depois perdê-los para o mercado seria burrice. Por isso, a cada dia as organizações fazem mais programas de retenção de talentos”, afirma Cristiane Mendes.

Álvaro Martins, 26 anos, usou essa possibilidade como trampolim. Logo após se formar, passou em uma seleção de trainee e ingressou em uma empresa de sabão em Luziânia (GO). Ele já sabia que de lá queria saltar para a área de petróleo e gás. Ficou quase um ano na indústria e decidiu voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, e aproveitar os cursos e oportunidades da região. “Quando cheguei, consegui emprego em uma empresa de plataformas. A experiência que tive em Goiás contou muito para o que faço hoje. Aliás, nessa área os anos de trabalho são essenciais para o crescimento. Os profissionais seniores são especialistas e têm salários altíssimos. Quero chegar lá”, ressalta Álvaro.

Produção acelerada
A meta de produção de barris de petróleo do Brasil, até 2014, apenas para a exploração da camada do pré-sal, é de 241 mil por dia. Em 2020, esse número sobe para 1,078 milhão barris/dia. Só para a empresa, até 2013, está previsto um aumento de quantitativo de pessoal por meio de concurso público de 6 mil pessoas, além de 800 mil empregos indiretos, segundo a Petrobras. A mais recente seleção aberta direcionada ao setor é a da Transpetro, com 386 vagas para auxiliar de saúde, eletricista, mecânico, moço de convés, moço de máquinas, cozinheiro e taifeiro. As inscrições vão até 6 de junho no site www.transpetro.com.br

Em Brasília, as capacitações estão nas formações de nível superior. Há três anos, por exemplo, além dos cursos de engenharia comuns, a Universidade de Brasília (UnB) criou a formação em engenharia de energia. Com uma visão ampla para atender os mercados das mais diversas formas de geração de energia, como as renováveis e não renováveis, a formação tem matérias específicas e abrangentes para uma forte formação química. “Os alunos aprendem muito sobre essa área de petróleo, refinaria, como transformar petróleo em gasolina, diesel. É um mercado de trabalho muito amplo e eles terão uma noção de todas as áreas, inclusive sobre a preservação do meio ambiente, essencial nos dias atuais”, ressalta o coordenador do curso de engenharia de energia na UnB/Gama, Manuel Barcelos.
 
Fonte: QG do Petróleo

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